terça-feira, 27 de agosto de 2013
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De médico e monstro...

19:25

Médicos brasileiros vaiam colega cubano e jogam a boa educação cara que papai pagou no lixo. (Foto: Jarbas Oliveira/Folhapress)
O Ministro da Saúde Alexandre Padilha foi enfático – e tem lá seus motivos – ao afirmar que a atitude dos médicos brasileiros que recepcionaram seus colegas internacionais em Fortaleza foi xenofóbica. Por definição, xenofobia nada mais é do que aversão ao que vem de fora de um país. Por classismo, bairrismo, ou seja lá qual for o motivo, os médicos brasileiros demonstraram apenas imaturidade ao hostilizar profissionais que vieram ocupar vagas que, a princípio, ninguém queria.

Argumenta-se que as regiões periféricas do Brasil não teriam estrutura suficiente para que médicos possam fazer seu trabalho de maneira satisfatória. Sem dúvidas, isso não pode ser questionado. Mesmo em grandes centros a saúde já encontra dificuldades, quiçá em cidades esquecidas, onde saneamento básico ainda é novidade. Os próprios médicos estrangeiros notaram a precariedade dos hospitais. Não é surpresa pra ninguém.

Não se pode, entretanto, esperar que nenhuma saúde seja oferecida a quem reside nessas áreas, enquanto se estrutura todos os hospitais da maneira ideal. Mais de 3.500 cidades requisitaram médicos do programa, o equivalente a 60% de todos os municípios brasileiros, o que mostra que não são poucas as prefeituras que não conseguem oferecer saúde básica aos seus moradores. Seria justo esperar que esses cidadãos fiquem sem acesso a nenhum tipo de saúde, até que o serviço perfeito seja oferecido? Não seria melhor que fosse oferecido algum tipo de auxílio, ao invés de nenhum, até que a estrutura física deixe de ser um problema?

Não questiono de maneira nenhuma a necessidade da revalidação do diploma dos estrangeiros, ou a precariedade do sistema de saúde. Questiono, sim, a atitude protecionista de uma classe que não quer assumir determinado posto, mas também não quer que ninguém mais o assuma, como uma criança que implica com o coleguinha por brincar com um brinquedo que estava jogado em um canto, sem atenção. Questiono a postura de profissionais como a jornalista cujo comentário repercutiu nas redes sociais essa semana, ao comparar as médicas cubanas a empregadas domésticas, como se tal profissão fosse um insulto. Questiono a imagem de um ser superior que acompanha o médico desde que o curso superior chegou a terras tupiniquins. Questiono se simplesmente ignorar que determinados lugares existem seria a melhor alternativa de protesto para que uma saúde de qualidade chegue àquele local.

Colega jornalista errou feio, errou rude.
 
Talvez, e falo aqui sem nenhum conhecimento de causa, fosse melhor unir forças com quem tem outras abordagens e outra formação para discutir como a saúde brasileira pode melhorar e como podemos resolver os problemas existentes, ao invés de só bater o pé e gritar que não. Talvez, como sempre, um diálogo limpo e direto fosse a melhor alternativa, tanto entre os médicos brasileiros e seus colegas de outros países, como entre os representantes da classe e o Governo Federal.

Não são poucas as profissões que, na correria da sua prática, esquecem que lidam com seres humanos. O jornalismo sofre muito disso, especialmente o policial, e a medicina também não escapa. Minhas poucas experiências com a saúde pública me mostraram apenas profissionais distantes da realidade do paciente, na maioria das vezes insensíveis e desinteressados. Sei que não são todos desse jeito, claro, assim como toda profissão tem seus bons e maus representantes. Também sei, porém, e com toda a certeza, que se estivesse doente em algum interior desse Brasil velho sem porteira, iria preferir um médico que me oferecesse algum tipo de ajuda, qualquer tipo, ao invés de permanecer ao léu. E nem precisa falar a mesma língua. Basta ser médico que entenda de gente.

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