Médicos brasileiros vaiam colega cubano e jogam a boa educação cara que papai pagou no lixo. (Foto: Jarbas Oliveira/Folhapress) |
O Ministro da Saúde Alexandre
Padilha foi enfático – e tem lá seus motivos – ao afirmar que a atitude dos
médicos brasileiros que recepcionaram seus colegas internacionais em Fortaleza
foi xenofóbica. Por definição, xenofobia nada mais é do que aversão ao que vem
de fora de um país. Por classismo, bairrismo, ou seja lá qual for o motivo, os
médicos brasileiros demonstraram apenas imaturidade ao hostilizar profissionais
que vieram ocupar vagas que, a princípio, ninguém queria.
Argumenta-se que as
regiões periféricas do Brasil não teriam estrutura suficiente para que médicos
possam fazer seu trabalho de maneira satisfatória. Sem dúvidas, isso não pode
ser questionado. Mesmo em grandes centros a saúde já encontra dificuldades,
quiçá em cidades esquecidas, onde saneamento básico ainda é novidade. Os
próprios médicos estrangeiros notaram a precariedade dos hospitais. Não é surpresa
pra ninguém.
Não se pode,
entretanto, esperar que nenhuma saúde
seja oferecida a quem reside nessas áreas, enquanto se estrutura todos os
hospitais da maneira ideal. Mais de 3.500 cidades requisitaram médicos do programa, o equivalente a 60% de todos os municípios brasileiros, o que mostra
que não são poucas as prefeituras que não conseguem oferecer saúde básica aos
seus moradores. Seria justo esperar que esses cidadãos fiquem sem acesso a
nenhum tipo de saúde, até que o serviço perfeito seja oferecido? Não seria
melhor que fosse oferecido algum tipo
de auxílio, ao invés de nenhum, até que a estrutura física deixe de ser um
problema?
Não questiono de
maneira nenhuma a necessidade da revalidação do diploma dos estrangeiros, ou a
precariedade do sistema de saúde. Questiono, sim, a atitude protecionista de
uma classe que não quer assumir determinado posto, mas também não quer que
ninguém mais o assuma, como uma criança que implica com o coleguinha por
brincar com um brinquedo que estava jogado em um canto, sem atenção. Questiono
a postura de profissionais como a jornalista cujo comentário repercutiu nas
redes sociais essa semana, ao comparar as médicas cubanas a empregadas
domésticas, como se tal profissão fosse um insulto. Questiono a imagem de um ser
superior que acompanha o médico desde que o curso superior chegou a terras
tupiniquins. Questiono se simplesmente ignorar que determinados lugares existem
seria a melhor alternativa de protesto para que uma saúde de qualidade chegue
àquele local.
Colega jornalista errou feio, errou rude. |
Não são poucas as
profissões que, na correria da sua prática, esquecem que lidam com seres
humanos. O jornalismo sofre muito disso, especialmente o policial, e a medicina
também não escapa. Minhas poucas experiências com a saúde pública me mostraram
apenas profissionais distantes da realidade do paciente, na maioria das vezes
insensíveis e desinteressados. Sei que não são todos desse jeito, claro, assim
como toda profissão tem seus bons e maus representantes. Também sei, porém, e com
toda a certeza, que se estivesse doente em algum interior desse Brasil velho
sem porteira, iria preferir um médico que me oferecesse algum tipo de ajuda,
qualquer tipo, ao invés de permanecer ao léu. E nem precisa falar a mesma
língua. Basta ser médico que entenda de gente.
Parabéns!!!
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