terça-feira, 17 de setembro de 2013
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Anorexia é glamourizada nas redes sociais

13:30
Trigger warning. Atenção. Este texto trata de temas como distúrbios alimentares e pressão social e certamente pode conter triggers, ou gatilhos, para quem é sensível ao assunto.



Um estudo divulgado pelo Ministério da Saúde esse mês causou espanto ao apontar Campo Grande como a capital com maior percentual de adultos acima do peso. Segundo a pesquisa Vigitel 2012 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), 56% dos adultos campo-grandenses estão acima do peso ideal, mais do que a média nacional de 51%. A obesidade, porém, não é o único transtorno alimentar que preocupa adultos e jovens.

Outro distúrbio cada vez mais comum é a anorexia nervosa. Esse transtorno é caracterizado por uma preocupação exagerada com o peso e uma distorção da autoimagem. Ao se enxergar obesa, apesar de extremamente magra, a pessoa passa a jejuar, tomar laxantes ou diuréticos, exagerar nas atividades físicas e, em casos mais graves, vomitar qualquer refeição que exceda a um limite rígido de calorias diárias.

O debate a respeito dessa doença voltou à tona depois que uma webcelebridade brasileira faleceu, vítima de hepatite viral, contraída em decorrência do enfraquecimento causado pela anorexia. A jovem gaúcha de 21 anos, Daiane Dornelles, tinha mais de 17 mil seguidores no Twitter e mais de 5,4 mil no Instagram. Nas duas redes, ela exibia o corpo esquálido e utilizava tags como #vamoanorexia. Todos os comentários elogiavam a “barriga negativa” e incentivavam Dai, como era conhecida, a comer cada vez menos.



As vítimas mais comuns da anorexia são bem parecidas com Dai. Mulheres jovens que buscam na magreza extrema uma maneira de se distanciar de problemas ou se encaixarem em padrões absurdos de beleza. “Para atingir esse ideal de beleza, as pessoas se sentem pressionadas e utilizam métodos não saudáveis. Como na anorexia há uma distorção da imagem corporal, mesmo estando muito magra, a pessoa não se percebe assim. Cada vez que percebem ter falhado no objetivo de emagrecer, sentimentos de culpa e fracasso emergem, o que agrava ainda mais essa doença.”, explica a psicóloga Denise Matos Manoel.

Pesquisas afirmam que o índice de mortalidade entre jovens com anorexia é de 15% a 20%. K.B. foi uma das meninas que escaparam das estatísticas. Hoje com 21 anos, ela foi diagnosticada com anorexia aos 16 e ainda tem dificuldades para falar sobre o assunto. Depois de um término complicado com o namorado, ela simplesmente parou de comer e começou a definhar. Foi só com a intervenção de psicólogo e nutricionista que ela conseguiu superar o problema.

Segundo a psicóloga Denise, “o tratamento da anorexia deve ser multiprofissional, incluindo psicólogo, médico e nutricionista. Na psicoterapia, é importante incluir a família. A participação dos pais é importante para que sejam realizadas orientações e uma educação sobre o transtorno e métodos para o tratamento”.

O que piora o quadro da anorexia nervosa são as redes sociais. Tags como #thinspo (inspiração de magreza) e #anamia (anorexia + bulimia), muito usadas entre comunidades de jovens anoréxicos, reúnem milhares de fotos e posts motivacionais para quem busca atingir um peso muito abaixo do ideal. Sites como Tumblr e Pinterest já tomaram providências e, além de coibir o uso das tags, oferecem avisos e ajuda a quem as busca. Já o Instagram tentou controlar as tags, mas os usuários burlam o sistema simplesmente trocando letras, como, por exemplo, escrevendo #th1nspo.



Para a psicóloga, o problema é o estilo de vida disseminado pelas redes sociais “Como no relacionamento com qualquer grupo, o jovem também quer pertencer e ser aceito entre seus pares nas redes sociais. Com isso, práticas para manter comportamentos não saudáveis de restrição alimentar são compartilhados. Esses relacionamentos mantêm, incentivam e exaltam esse estilo de vida. Outro ponto importante é que a anorexia é disseminada nesses meios como se não fosse uma doença, mas uma ferramenta para alcançar um objetivo, o que dificulta a adesão ao tratamento”, alerta.

Para evitar que a doença se agrave, os pais devem ficar atentos ao comportamento dos filhos. “O jovem com anorexia se isola e evita situações em que tenha que comer, como um almoço em família, por exemplo. Ao perceberem mudanças no comportamento dos filhos, os pais devem buscar o diálogo e mostrarem-se abertos. No caso do filho ter um transtorno alimentar, é importante que a família busque ajuda de um profissional e um tratamento multiprofissional”, recomenda Denise.

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